15 Junho 2010
Por: Henrique Machado
Abandonaram um jipe à civil da PSP em cima do passeio, em Oeiras, com duas rodas na estrada. E o 112, autocarro de passageiros com 17 metros, que faz carreira até Belas, não conseguia passar. O motorista buzinou e o trânsito acumulou-se, até que os dois polícias chegaram. Estalou a discussão, tendo o motorista insultado a PSP – e, a partir daí, segundo a Acusação do Ministério Público, o chefe José Cruz, 51 anos e 23 de Polícia, deteve-o. Levou Manuel Lopes até à esquadra, onde o espancou com um colega, sequestrou na casa de banho, ameaçou de morte e lhe cuspiu.
O motorista da Vimeca chegou à Esquadra de Investigação Criminal de Oeiras às 18h00 de 19 de Junho de 2008. E logo no corredor, com José Cruz e o agente Vítor Moraes, levou 'socos no estômago, pontapés nas pernas, estalos na cara' e diziam-lhe: 'Filho da p..., c..., estás f...'. Viu negarem-lhe um telefonema e foi fechado na casa de banho.
Levou murros e bofetadas. Vítor Moraes abriu-lhe o sobrolho. O chefe Cruz mandou sair os colegas, trancou a porta, pousou a arma no chão, despiu a camisa e disse: 'Bate-me filho da p..., para te poder matar aqui dentro'. Como o motorista não reagiu, Cruz 'cuspiu-lhe várias vezes no rosto'.
'ORDENOU-LHE QUE ASSINASSE PAPÉIS SEM LER'
O motorista saiu da estação da CP de Oeiras pelas 17h50, com passageiros em direcção a Belas, mas foi barrado três minutos depois, na rua Marquês de Pombal, no centro da vila. Pouco depois das 18h00 já estava a entrar na esquadra da PSP, detido. Foi devolvido à liberdade pelas 19h30, 'com o sobrolho esquerdo aberto e a sangrar, a camisa rasgada e manchada de sangue e muito dorido'. Só na casa de banho, a ser espancado, passou 15 minutos. Não o deixaram telefonar e, no final, numa sala da esquadra, o chefe 'José Cruz ordenou a Manuel Lopes que assinasse uns papéis sem que o tenha autorizado a lê-los', segundo o Ministério Público. Posto em liberdade, o motorista da Vimeca apercebeu-se de que não tinha os seus pertences e voltou atrás. Resposta do chefe Cruz: 'Põe-te na rua antes que te parta as pernas'.
INVENTOU COMENTÁRIO RACISTA CONTRA COLEGA... CAUCASIANO
O Ministério Público de Oeiras considera que o chefe José Cruz mentiu na participação. Disse que Manuel Lopes se 'recusou sucessivamente a fazer o teste de alcoolemia', sendo desmentido por agentes de trânsito que estiveram no local (e o motorista acusou 0,0 g/l), e afirmou que Manuel Lopes fez um comentário racista para o agente Vítor Moraes: 'Larga-me preto de m..., vai para a tua terra comer bananas!'. Moraes tem 'tez morena' mas é caucasiano – e o MP diz que o motorista não fez o comentário. Diz ainda o MP que o chefe Cruz deturpou declarações de funcionários da Vimeca, para fazer parecer que o motorista é 'conflituoso, com antecedentes', quando o MP apurou que Manuel Lopes é 'estimado, cordato, um bom funcionário'.
PORMENORES
'UM CAPO PONTUAL'
Paulo Flor, porta-voz da PSP, diz que 'esta situação não reflecte o profissionalismo da Polícia. São casos pontuais, que devem ser julgados'.
ABUSO DE PODER
José Cruz está acusado de ofensas qualificadas à integridade física, injúria qualificada, ameaça, sequestro e abuso de poder.
UM MÊS DE BAIXA
Manuel Lopes, 46 anos, é acusado de injúria e ameaça. Foi assistido no hospital às agressões e esteve um mês de baixa.
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