terça-feira, 8 de junho de 2010

POLÍCIA ALDRABA PROVAS PARA TRAMAR SUSPEITO


Polícia aldraba provas para tramar suspeito

Duas casas roubadas: uma com 4 impressões digitais, outra sem. Dividiu ‘o mal pelas aldeias’.
08 Junho 2010
Por: Henrique Machado

Dois apartamentos assaltados no coração de Lisboa, de noite, num curto espaço de tempo. Duas vítimas ficaram sem relógios – peças em ouro, de um lesado, no valor de 3000 euros; e a colecção da marca Swatch, avaliada em 1500 euros, de outro proprietário. A PSP foi aos locais – mas o agente J.C.M. apenas conseguiu encontrar impressões digitais na segunda casa: quatro dedos de uma mão na caixa dos Swatch. Dividiu o ‘mal pelas aldeias’ e, para incriminar um só suspeito nos dois roubos, decidiu plantar dois dos dedos na primeira casa.

Ou seja, o agente de 35 anos, colocado na Equipa de Identificação e Inspecção Judiciária da PSP, partiu do princípio que se tratava do mesmo assaltante. Mas não tinha provas para o roubo de relógios de ouro na Calçada do Patriarcal: os vestígios lofoscópicos recolhidos 'não tinham valor identificativo', segundo Acusação do DIAP de Lisboa a que o CM teve acesso.

Como tinha quatro vestígios do segundo roubo, em 5 de Agosto de 2009, cortou ao meio a fita da recolha de impressões digitais e transplantou os vestígios de dois dedos (médio e indicador) para o assalto sem provas. Quando a PSP identificasse o suspeito seria culpado de tudo.

'EXCEPÇÃO QUE NÃO REFLECTE O RIGOR E A HONESTIDADE DA PSP'

Os crimes cometidos numa investigação pelo agente principal J.C.M., transferido para o Núcleo de Instrução do Comando de Lisboa enquanto decorre o inquérito judicial, são 'uma excepção, que não reflecte minimamente a eficácia, o rigor e a honestidade empregues' diariamente pela PSP ao nível da investigação criminal – 'com resultados francamente positivos', diz ao CM o director nacional daquela polícia, Oliveira Pereira. Confrontado com a situação, o superintendente-chefe lamenta o sucedido, num caso que será resolvido pela Justiça e internamente, através de processo disciplinar, mas que 'estatisticamente é irrelevante, um caso isolado no universo de mais de dois mil agentes investidos na investigação criminal'.

PORMENORES

PUNÍVEL ATÉ CINCO ANOS

'Forjou meio de prova' para que, correspondendo os vestígios 'a identidade conhecida', essa pessoa fosse punida até 5 anos por furto qualificado.

ACUSADO DE TRÊS CRIMES

Aos 35 anos, o agente J.C.M., da PSP, está acusado por crimes de falsificação de documento, denegação de justiça e prevaricação.

AGENTE 'EMPENHADO'

A seu favor, o agente tem o facto de não ter antecedentes e de a sua comandante o definir como 'efectivo empenhado'.

CAÇADO DO LPC QUANDO LADRÃO FOI IDENTIFICADO

As provas recolhidas pelo agente J.C.M. nos dois assaltos a casas foram remetidas ao Laboratório de Polícia Científica (LPC) da PJ e, 21 dias depois, a 26 de Agosto, uma subcomissária da PSP pediu ao LPC a comparação dos vestígios colhidos com as impressões digitais de um suspeito entretanto identificado, M.N., 32 anos. E um mês depois um especialista do LPC, 'ao efectuar fotografias às lamelas [onde constavam, em cada uma, impressões digitais de dois dedos do suspeito], concluiu que ambas reproduziam um único conjunto de quatro vestígios, transplantados ao mesmo tempo. Mais concluiu, pela evidente secção [corte] da fita adesiva transparente, para que ficassem dois vestígios em cada lamela, revelada pela sobreposição das fotografias', lê-se na Acusação da 9ª secção do DIAP de Lisboa.

Fonte: www.cmjornal.xl.pt

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