segunda-feira, 31 de maio de 2010

MARLENE, UM ROSTO DE VIOLÊNCIA POLICIAL


Jovens acusam a PSP de agressões continuadas dentro e fora da esquadra. É o terceiro caso numa semana
Por: Cláudia Lima da Costa | 31-05-2010 21: 04

Marlene Pereira tem 27 anos e cara amassada por polícias. Pelo menos é essa a acusação que faz e terá sido esse o motivo que levou quatro rapazes, alegadamente desconhecidos da jovem, a acabarem também eles espancados por agentes da PSP. As versões dos jovens e da polícia não coincidem, mas à vista de todos estão os ferimentos, a indignação e o nervoso com que se descreve uma noite de violência.


Os desacatos registados na noite deste sábado, segundo contaram ao tvi24.pt os jovens detidos, começaram pelas duas da manhã e tiveram dois momentos distintos. Um primeiro que levou à detenção da jovem e um segundo quando um grupo de amigos passa e fotografa «as agressões da polícia à jovem».

«Estávamos sentados. Às vezes é normal partir-se umas garrafas que ali ficam da noite, mas desta vez não. Era uma noite calma, sem muita gente, e a polícia começou a descer a rua. Agarram um rapaz e puseram-no de parte. Depois chamaram-me a mim», conta Carlos, o namorado de Marlene que saiu intacto da «confusão». «Quando lhe começaram a bater, esqueceram-se de mim».

«Larguem a miúda, é só uma miúda»

Foi com o encosto à parede do namorado que a jovem de 27 anos se indignou. Reagiu e diz que questionou os polícias sobre o motivo da abordagem. «Não estávamos a fazer nada», defende. «Fui logo agredida. Aí, insultei-o!», conta Marlene que explica que logo de seguida levou «uma rasteira» e foi ao chão. «Depois? Foi bater até não dar mais».

A PSP tem uma versão diferente. Marlene terá cuspido e empurrado um agente. Foi então algemada e detida tendo os outros elementos do grupo no local, segundo a polícia, tentado libertar a jovem instalando-se a confusão. Num vídeo que o tvi24.ptvisionou, e em que o som conta mais que as imagens, é possível perceber que a polícia tenta afastar os jovens presentes no local. Na versão policial dos factos é feita também alusão aos insultos dos presentes às autoridades. No entanto, os sons da noite mostram, entre choros, um apelo: «Larguem a miúda, é só uma miúda».

«Não existe nenhum cartão»

É com Marlene no chão que começa a história de Alexandre, Sergio, Pedro e Rogério. Entrevistados à parte, todos contam a mesma versão. «Tínhamos saído de um jantar e íamos a subir o Bairro. Vimos a polícia a espancar uma rapariga. Tinham os pés na cabeça e não paravam de a pisar e pontapear. Gritámos indignados», conta Sérgio Henriques, de 27 anos, técnico psico-social.

Alexandre, fotojornalista, começou a fotografar sem se esconder. Um «erro» que parece ter despoletado a raiva dos agentes. «Começaram a bater-me, tiraram-me a máquina e algemaram-me». O jovem de 23 anos conta que mais tarde, já na esquadra disse que era jornalista e não lhe bateram mais. Foi-lhe devolvida máquina, mas quando perguntou pelo cartão a resposta foi clara: «O cartão não existe».

Pedro Pereira de 35 anos, estudante de energias renováveis, é quem, ao lado de Marlene, apresenta mais sequelas. É também o mais nervoso a descrever a violência. «Levaram-me para a esquadra. Fiquei com a cara jorrada em sangue. Estava algemado, pegaram-me numa toalha e deram-me na cara», descreve, ao mesmo tempo que confessa ainda ter medo. Também Marlene diz ter sido agredida com uma toalha.

Os cinco detidos contam que nunca lhes foi explicado o motivo da detenção, que durante todo o tempo foram intimidados e humilhados. Descrevem ainda que foram ameaçados de vir a sofrer represálias caso contassem o que tinha ocorrido e que em tribunal deveriam confirmar a versão de agressões aos agentes.

Presentes a tribunal viram a audiência ser adiada para a próxima quarta-feira. Tentaram ser examinados por peritos do Instituto de Medicina Legal, mas até ao momento sem sucesso. Os passos seguintes serão queixas à Polícia Judiciária e ao Ministério Público.

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